QUANDO UM MECÂNICO
GANHA MAIS QUE UM CHEFE DE COZINHA
Restrinjo este meu breve
pensamento apenas aos cursos profissionais de nível IV. Porque são
privilegiadamente aqueles com que trabalhamos nas escolas Insignare, porque são
os que melhor conheço. Todos os anos assistimos a momentos de elevada indecisão
e expectativa por parte dos jovens que nos procuram.
Com uma média de idades a
rondar os 15/16 anos, são colocados perante o dilema de optar por um curso que
na generalidade marcará definitivamente a continuidade do seu percurso
académico a nível superior ou o abraçar de uma profissão para boa parte da
vida. Sim, apenas para boa parte, porque isto de profissões para a vida é coisa
que me parece já não existir. E é neste momento tão decisivo das suas vidas que
os jovens são confrontados com uma imensa diversidade de opções, algumas delas
ajustadas à formação dos docentes existentes nas escolas e propostas apenas com
a finalidade de garantir a manutenção dos postos de trabalho, outras
enquadradas em discutíveis critérios superiores que definem a sua prioridade,
outras tão só, porque estão na moda e garantem uma forte adesão por parte dos
jovens.
E é sobre este último aspecto que agora me importa refletir. Já lá vão
vinte anos em que aqui iniciámos a oferta de formação nas áreas da Hotelaria e
do Turismo. Relembro a relativa facilidade com que conseguíamos a adesão de
alunos para o curso de Receção, menos para o curso de Restaurante/Bar e era
tarefa quase impossível convencer um jovem (e sobretudo a sua família) de que a
profissão de Cozinheiro tinha bons níveis remuneratórios e uma grande empregabilidade.
Duas décadas depois como é tão diferente a realidade. O mediatismo conseguido
pela área de Cozinha colocou a profissão e os cursos que a ela conduzem no topo
das preferências e basta analisar os dados recentes na Escola de Hotelaria de
Fátima. Para trinta vagas disponíveis no curso de Cozinha/Pastelaria
inscreveram-se cem jovens. Mas o verdadeiro problema não está na forte adesão
verificada na EHF, que por sinal é uma escola especializada nas áreas da
Hotelaria, Restauração e Turismo, o problema está na multiplicidade de ofertas
que pulverizam o território nacional.
Corre-se o sério risco de que a médio
prazo a oferta de trabalho exceda largamente a procura e que uma profissão
reconhecida e razoavelmente remunerada perca tudo aquilo que lhe custou tanto a
conseguir. E tudo por excesso, por mediatismo, por moda. Em simultâneo
oferecemos na Escola Profissional de Ourém os cursos Manutenção Industrial e
Metalomecânica. Garantem plena empregabilidade e níveis remuneratórios médios
semelhantes a um Chefe de Cozinha. A oferta por parte das escolas é escassa e a
procura dos alunos relativamente baixa. O curso de Metalomecânica consegue até
o feito heróico de ter na EPO a única oferta de todo o território de Lisboa e
Vale do Tejo. E tudo isto porque não estão na moda.
Vivemos hoje tempos
difíceis e por isso aconselho os jovens a analisarem bem todas as ofertas que
têm ao seu dispor, recolhendo toda a informação e aconselhando-se com aqueles
em que mais confiam. E sobretudo que não embarquem em facilidades e modas.
Francisco Vieira
Diretor Executivo da Insignare
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